O Instituto Psiquiátrico Forense (IPF) Maurício Cardoso realizou a Feira ArtLibertamente, com exposição de quadros confeccionados pelos pacientes do próprio IPF, na última quinta-feira (6), no Foro Central de Porto Alegre. 

O evento é o resultado de meses de trabalho terapêutico e educacional realizado por pacientes da unidade prisional, sob a orientação das equipes do Instituto e do professor de pintura Paulo Telles, do Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac). 

A exposição é a etapa final do Curso de Aprendizagem Profissional, do Programa Jovem Aprendiz, e é focado em vendas e atendimento ao público. Trata-se de uma iniciativa do IPF em parceria com a Vara de Execuções de Penas e Medidas Alternativas (VEPMA), a Superintendência Regional do Trabalho e Emprego, o Senac e o Grupo Zaffari. 

Segundo a técnica superior penitenciária e assistente social Maura Moisinho, “o Curso de Aprendizagem Profissional possibilitou acesso à educação, influenciando na saúde mental dos aprendizes do curso. Ao longo do processo educacional, foi possível perceber a mudança de comportamento e a melhora na convivência com o grupo, favorecendo a interação social”, afirmou. 

Em fevereiro de 2023, o IPF realizou a primeira exposição do ArtLibertamente, inicialmente, para o público interno e obteve elogios de pacientes e servidores. A edição de agora é voltada para o público externo, que poderá apreciar 180 quadros de 16 pacientes que cumprem medida de segurança e que alcançaram a etapa final do curso, voltado para as vendas. 

Durante o evento, a diretora do Departamento de Tratamento Penal (DTP), Rita Leonardi, ressaltou a importância de projetos como esse na ressocialização do apenado. "O curso faz essa interlocução da arte com as vendas e prepara os pacientes para se reintegrarem à sociedade, possibilitando mudanças de comportamento. Estas obras expressam sentimentos e emoções, e isso vai muito além de uma técnica de trabalho terapêutico", destacou. 

Para o diretor geral do IPF, Luciano Lindemann, o curo é excepcional. “Além de trabalhar a parte cognitiva, também possibilitou que os pacientes desenvolvessem habilidades na área de vendas. Os quadros aqui expostos foram inspirados em artistas famosos, permitindo que os apenados expressassem os seus próprios sentimentos", reforçou. 

A abertura oficial, que ocorreu às 17h, contou com algumas autoridades do Poder Judiciário, entre elas, a juíza e diretora do Foro Central, Alessandra Bertolucci, que discursou a respeito da importância de se apresentar uma exposição como esta para além dos muros da instituição psiquiátrica. "Eu fiquei muito feliz quando recebi o convite para realizar essa divulgação aqui no Foro, porque aqui transitam cerca de 36 mil pessoas por mês, e as coisas que acontecem aqui repercutem na vida do nosso Estado e das pessoas que vivem aqui", lembrou.

Ao longo da exposição, alguns pacientes explicavam o significado de cada obra, e um deles era Marcelo, paciente do IPF há quatro anos. Para ele, o curso não só abriu portas para uma nova profissão, mas também para um futuro com novas perspectivas. "O curso durou um ano, foram várias fases, com treinamentos e técnicas diferentes. Para mim, representa uma nova porta para criar novos horizontes e novas esperanças. É muito emocionante porque me dá uma nova visão de vida, eu posso esquecer o meu passado e me dedicar ao futuro, atuando tanto na arte para lazer como para trabalho", salientou. 

A exposição contou ainda com a presença da delegada penitenciária da 10ª Região, Patricia Picolotto; da diretora administrativa do IPF, Paula Marques; da diretora e responsável técnica do IPF, Maura Moisinho; do juiz da VEPMA, Alexandre Pacheco; da coordenadora da Aprendizagem Profissional do RS, Denise Brambila, e da diretora da Escola Senac Comunidade, Liliane Netto Valls. 

A Feira ArtLibertamente ocorrerá até a próxima sexta-feira (14), das 13h às 18h, na Avenida Aureliano de Figueiredo Pinto, 105, Praia de Belas - Foro Central 1 - Saguão Principal/Térreo. 

Nome fictício para preservar a identidade do apenado.

Instituições em prol da ressocialização 

A Superintendência dos Serviços Penitenciários (Susepe), buscando implementar políticas públicas de ressocialização, de educação e de orientação profissional, já adota, em diversas casas prisionais, atividades terapêuticas e educacionais. Em algumas unidades, como é o caso da Penitenciária de Canoas (Pecan I), há projetos de pintura detox, voltados para os adictos, que aprendem sobre os mestres das artes plásticas e ainda adquirem capacitação enquanto se curam do vício em drogas. 

Já o Projeto Jovem Aprendiz, desenvolvido no IPF, foi idealizado em 2021 pela Divisão de Educação Prisional (DTP/Susepe), que coordena a gestão da educação prisional e a implantação do programa no sistema penitenciário, e proposto junto à Superintendência Regional do Trabalho e Emprego. Esta última, no que tange à parte laboral, é responsável por fiscalizar o cumprimento das leis do trabalho. 

Outras instituições parceiras foram aderindo ao Projeto para que este se tornasse viável, como é o caso da VEPMA, responsável pelos pacientes que estão em cumprimento de medida de segurança. Já o Senac Comunidade foca na aprendizagem profissional, e a empresa Zaffari fez a contratação dos aprendizes no período do curso, que ocorreu de junho a julho de 2023. 

O Instituto Psiquiátrico Forense, na reafirmação de seu compromisso com práticas terapêuticas diretas e transversais, visando o bem-estar e à contribuição na reinserção social de seus pacientes custodiados, acolheu a proposta, oferecendo meios logísticos, humanos e o planejamento da execução, culminando agora na exposição de arte em que os aprendizes colocarão em prática as técnicas de vendas adquiridas durante a aprendizagem. 

Texto: Marcelle Schleinstein/Ascom Susepe 

Edição: Ascom SSPS