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Apenadas da Penitenciária Feminina de Guaíba assistem ao documentário Olha pra Elas

Filme aborda a temática do aprisionamento feminino no Rio Grande do Sul

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A iniciativa é da Secretaria de Sistemas Penal e Socioeducativo e dos realizadores do filme - Foto: Jürgen Mayrhofer/Ascom SSPS

Cerca de 50 mulheres privadas de liberdade da Penitenciária Estadual Feminina de Guaíba (PEFG) assistiram ao documentário Olha pra Elas, que trata da temática do aprisionamento feminino, na tarde desta terça-feira (4). A iniciativa é da Secretaria de Sistemas Penal e Socioeducativo (SSPS) e dos realizadores do filme, Tatiana Sager e Renato Dornelles.

Produzido pela Panda Filmes e Falange Produções, o documentário, com a abordagem das histórias de Adelaide, Tatiane, Catia, Naiane e Roselaine, trata de questões acerca das especificidades de ser mulher no sistema prisional. Em um universo de 43 mil pessoas que vivem em privação de liberdade no RS, em torno de 2,5 mil são mulheres. As particularidades da população feminina no cárcere demandam especial atenção, tanto no aspecto assistencial quanto no de custódia.

O Brasil ocupa o terceiro lugar no ranking mundial como o país com a maior população carcerária feminina. Boa parte é mãe com mais de um filho e a maioria cumpre pena por tráfico de drogas. Algumas delas, acusadas por conta do envolvimento dos próprios parceiros com o crime, outras, por serem usuárias de drogas. 

A previsão é de que, assim como já ocorreu no Presídio Feminino Madre Pelletier e na unidade de Guaíba, outras sessões do documentário sejam realizadas em estabelecimentos prisionais gaúchos. Inicialmente, as exibições acontecerão em unidades femininas e, posteriormente, em masculinas.

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Segundo o secretário de Sistemas Penal e Socioeducativo, Luiz Henrique Viana, “lidar com a distância da família quando se é responsável pelos filhos, com a solidão causada pela falta de visitas, com as dificuldades ligadas ao período menstrual, dentre outras situações, são apenas algumas das dificuldades que derivam da condição de ser mulher enfrentadas diariamente por essa parcela da população no sistema prisional. Mas somos capazes de, pela vontade e inteligência, escolher amar, e, consequentemente, somos capazes de mudar o mundo”.

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A superintendente adjunta dos Serviços Penitenciários, Deisy Vergara, destacou a importância de se debater sobre o encarceramento feminino e todos os seus desdobramentos. “Que documentários como este sirvam para repensarmos a situação das apenadas e que cada um possa refletir sobre o que pode ser feito para que as coisas possam ser melhores na vida de quem passa por esta situação”, disse.

A diretora Tatiana, que já dirigiu outros documentários sobre presídios, como o “Central - o poder das facções no maior presídio do Brasil”, quis dar voz a estas mulheres. Para ela, o aprisionamento feminino não é tão divulgado quanto o dos homens, as mulheres apenadas são invisíveis. Ninguém divulga o que elas experienciam, ninguém sabe a extensão dos danos psicológicos causados nos filhos destas mulheres.

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Para Tatiana, “a situação da mulher é sempre estigmatizada, a gente vive em um machismo estrutural de séculos e ainda não conseguiu combater. Sei que a grande maioria está aqui por questão relacionada a companheiros, então eu me solidarizo com todas. Vamos mostrar para o mundo o que estas mulheres passam, como elas vivem longe dos filhos e familiares”. “O nosso propósito, com este filme, é mostrar a vida destas mulheres, que pagam mais do que uma pena, pois ficam longe dos filhos, e não ter notícias deles é multiplicar a pena delas”, completa o roteirista, Renato Dornelles .

Quando uma mulher é retirada da sociedade, uma família inteira padece. Filhos não têm notícias de suas mães e as mães também não têm notícias dos filhos. Muitas dependem de parentes que possam levar os filhos nas visitas. Mas e quem não tem ninguém? 

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Cerca de 50 apenadas assistiram ao documentário - Foto: Rodrigo Borba / Ascom Susepe

“Eu nasci na prisão. Minha mãe estava grávida quando foi presa. Eu nasci aqui dentro. Depois, ela me deixou com uma amiga, mas, quando ela saiu, ela não quis mais saber de mim. Hoje estou grávida e minha filha de 5 anos está lá fora sem ninguém. Eu não tenho ninguém que olhe por mim. Não tenho pai, mãe, avó. Eu gostaria de poder sair só pra poder ter meu filho fora daqui. Não adianta, eu estou tendo a mesma vida da minha mãe. Esse é o meu destino”, disse uma das apenadas do filme, grávida e mãe de uma menina de 5 anos.

Serviço

O documentário teve uma sessão inaugural no dia 28 de março na cinemateca da Casa de Cultura Mario Quintana. Na ocasião, a sessão, que estava marcada para iniciar às 19h30, começou com atraso por conta da lotação da Casa. O debate que estava previsto teve que ser adiado por conta da grande procura e uma sessão extra foi disponibilizada na mesma noite. 

O filme entrará em cartaz para o público a partir de 11 de maio na cinemateca da Casa de Cultura Mario Quintana, em Porto Alegre.

Prêmios e indicações

  • FAM Florianópolis Audio Visual Mercosul -  melhor filme (2020)

  • 37º Prêmio de Direitos Humanos de Jornalismo - 3º melhor documentário (2020)

  • FESTin Festival de Cinema Itinerante da Língua Portuguesa - seleção oficial (2022)

  • Valência Indie Film Festival - european premiere (2020)

  • III Festival de Cinema Negro em Ação - seleção oficial (2022)

  • Caminhos Festival Cinema Português - filmes da lusofonia  XXVII (2021)

Texto: Marcelle Schleinstein/Ascom Susepe

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