Grávidas e lactantes do Presídio Feminino Madre Pelletier consideram a maternidade como uma possibilidade de mudança
Celebração do Dia das Mães será marcada pelo companheirismo entre as apenadas
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Domingo (11/05), Dia das Mães, oito gestantes e lactantes privadas de liberdade do Presídio Feminino Madre Pelletier serão companheiras umas das outras na celebração da data, com uma certeza que é quase unânime entre elas: ser mãe é uma possibilidade de mudança.
Lúcia*, de 25 anos, completa 39 semanas de uma gravidez de risco no Dia das Mães. Diagnosticada com pré-eclâmpsia e toxoplasmose durante o pré-natal realizado no Hospital Materno-Infantil Presidente Vargas – onde as presas recebem atendimento especializado –, ela está na expectativa pela chegada do bebê, prevista para ocorrer, no máximo, até 1º de junho.
A outra filha, de um ano, está aos cuidados da irmã. “No primeiro Dia das Mães que sou mãe, estarei longe da minha filha. Na segunda-feira tenho audiência e, se tudo correr bem, poderei progredir para o semiaberto e ficar com minhas duas filhas. No ano que vem, pretendo passar a data grudada nelas, beijando, abraçando e brincando”, afirma Lúcia.
Bruna*, com uma bebê de quatro meses, teve dificuldade para amamentar e recebeu atendimento na Unidade Básica de Saúde localizada dentro do presídio, que possui uma enfermeira especialista em acompanhamento gestacional. Agora, alimenta a pequena com fórmula infantil fornecida pelo Estado.
Sobre a data comemorativa, Bruna lamenta não poder passar com sua mãe e seu outro filho, de quatro anos. “Quando eu sair, pretendo celebrar o próximo Dia das Mães com elas.”
Das gestantes, a maioria não recebe a visita do companheiro. Poucas mulheres, inclusive, recebem visitas, que, geralmente, são de mães, filhos ou irmãs. Lúcia é visitada pela irmã, mas não quis que a filha a visitasse, assim como as outras mães de crianças pequenas.
A Unidade Materno-Infantil
A Unidade Materno-Infantil (UMI) da unidade prisional é o espaço onde as apenadas podem permanecer durante a gestação e até o bebê completar um ano de vida, amamentando de forma integral nos primeiros seis meses.
No local, elas recebem suporte psicossocial e médico. “É um suporte, porque muitas delas vivem uma situação de abandono total. Não tem quem ajude de fora, por exemplo, trazendo roupas”, explica a diretora do Presídio Feminino Madre Pelletier, Suelen Teixeira.

A UMI tem como objetivo garantir os direitos das mulheres presas, promovendo um ambiente que permita o desenvolvimento integral da criança e o vínculo mãe-filho. Nesse período, há uma busca ativa por familiares que possam ficar responsáveis pela criança. Ao aceitar, essa pessoa passa por uma adaptação. “O bebê só sai daqui após a audiência de guarda. Raramente acaba no sistema de adoção”, diz Sabrina Varoni Nunes, vice-diretora do Madre Pelletier e coordenadora da UMI.
Assistência Religiosa
Todas as quintas-feiras, as apenadas do Presídio Feminino Madre Pelletier recebem assistência religiosa. Um momento considerado tanto de reflexão quanto de suporte.
“A atuação das igrejas é muito forte aqui no Madre. É fundamental para acolher as detentas. Eles também participam com doações de roupas, calçados e materiais de higiene pessoal. No caso das gestantes, as igrejas também ajudam com os itens essenciais para os bebês”, explica Teixeira, diretora da unidade prisional.
Para o secretário de Sistemas Penal e Socioeducativo, Jorge Pozzobom, nomeado há um mês para a pasta, a assistência religiosa é uma importante ferramenta no processo de ressocialização. “Sou testemunha viva de que a fé transforma as pessoas e, nos estabelecimentos prisionais, ela pode resgatar o sentido da vida.”
*Os nomes foram alterados para preservar a identidade das pessoas privadas de liberdade